Curso Sobre a Memória
A natureza é uma contadora implacável; se você
exige dela um setor mais do que ela está
preparada para dar, ela equilibra as contas
fazendo uma dedução em outro lugar.
HERBERT SPENCER
PARTICULARIDADES DE ALGUMAS MEMÓRIAS
Vamos retomar agora estudo da fisiologia do cérebro. Pedimos desculpa aqueles que possam julgar tediosas estas lições, mas elas merecem ser estudadas com cuidado, porque vão lhe permitir compreender bem os mecanismos da memória e tirar melhor partido das aplicações que lhes ensinaremos mais tarde.
Vamos dizer algumas palavras sobre a amnésia, a astenia e a ciclotimia.
Não se trata de estudar as diferentes doenças do cérebro e da memória, porque nosso interesse nestes tutoriais não é tratar ou cuidar de “doentes” mas lhe permitir obter o máximo das suas faculdades mentais.
Todos já ouvimos falar de casos de amnésia, em que o doente tem um comportamento perfeitamente normal em todas as circunstâncias, mas perdeu totalmente a lembrança do seu passado. Ele já não sabe quem é ou foi, onde nasceu, onde viveu, etc.. O fato de que o amnésico reencontra, por vezes, sob a influência de um choque físico ou emocional, todas as recordações, prova bem que as lembranças não haviam sido destruídas. Conforme dissemos anteriormente, verifica-se assim falta de capacidade para “ler” esses registros.
Há uma outra doença da memória que não se pode ignorar, pois todos nós estamos sujeitos a ela um ou outro dia: é a astenia.
Astenia é muito simplesmente uma fadiga excessiva do cérebro que lhe provoca um funcionamento deficiente. Ou, para explicar a idéia através da imagem, a astenia é aproximadamente para o cérebro o que uma “rotura” é para um músculo.
A astenia é bastante frequente no caso de sobrecarga intelectual, especialmente nos estudantes que se preparam para um exame. A astenia traduz-se por uma sensação geral de grande fadiga, por palpitações, podendo o doente chegar a desmaiar ou a desfalecer. Num menor grau, ela provoca nevralgias, enxaquecas, náuseas, etc.. Num caso de astenia, o doente não pode tirar do cérebro, e especialmente da memória, um rendimento superior a um quarto do que ele obtém normalmente. Com mais fadiga, ele consegue muito menos resultados.
Seguindo os princípios de higiene expostos neste curso e aplicando os métodos de trabalho e de memorização que aqui serão ensinados você evitará a astenia, aprenderá mais se fatigando menos e fornecerá ao seu cérebro as condições de funcionamento que lhe permitirão não desfalecer.
Embora não se trate de uma verdadeira doença do cérebro (pelo menos enquanto se encontra no seu estado benigno) é necessário dizer algo acerca da ciclotimia, porque muita gente é ciclitímica.
A ciclotimia traduz-se por uma sucessão de estados de euforia e de estados de depressão ou por uma sucessão de periodos de grande atividade cerebral e de periodos de grande indolência. Quando se encontra no periodo ascendente, o ciclotímico é capaz de fazer grandes esforços, age mais facilmente, não sente fadiga, concentra-se facilmente, retém tudo e trabalha de maneira eficaz, sem que isso lhe custe. Depois, sobrevém uma fase descendente, em que o esforço se torna penoso, em que “marca passo” na ação, em que o trabalho cerebral lhe custa, a concentração é-lhe dificil e o estado da sua memória penaliza-o.
Segundo os individuos, as diferenças entre períodos ascendentes e periodos descendentes são mais ou menos acentuadas. Do mesmo modo, a duração do ciclo é variável: uma quinzena para alguns, um mês para outros, ou, até, três meses, seis meses.
Se você tem a impressão de que é um ciclotímico, tem interesse em conhecer a ordem de grandeza do seu ciclo. É suficiente, para tal, anotar numa agenda os seus periodos de efervescência e os periodos de depressão. É possível, pela vontade e sabendo analizar-se, deslocar os ciclos, principalmente encurtando os períodos de depressão. Isso permite evitar que se encontre no momento de um acontecimento importante (nova situação profissional, exame, etc.) numa fase de depressão. Para isso, é necessário estimular fisicamente o organismo através de exercícios físicos ou de desporto, fazer breves leituras aptas a modificar as idéias ou a entusiasmar, modificar a impulsão fisica e mental.
COMO DESENVOLVER O SEU PODER DE CONCENTRAÇÃO
Antes de terminar o estudo da fisiologia do cérebro, vamos aprender sobre um assunto que é muito importante, a concentração.
Saber concentrar-se é indispensável ao desenvolvimento da sua memória.
A atenção e a observação não são suficientes se você não se concentrar corretamente sobre suas ações.
Concentração é manter a atenção sobre um assunto determinado sem se distrair com outros pensamentos. É, aliás, uma faculdade extremamente preciosa, para o exercício de todas as nossas atividades mentais.
Podemos classificar a concentração que usaremos para memorizar em dois tipos, ainda que naturalmente se trate da mesma faculdade, são eles:
1 - Concentração Imediata: necessária para observar com cuidado um documento, uma paisagem, um acontecimento, um espetáculo, um monumento, um quadro.
2 - Concentração Prolongada: necessária para estudar, aprender, reter, redigir, calcular, pensar, refletir.
A concentração imediata exige ser praticada à vontade, instantaneamente e em todas as circunstancias. Ela requer também a aptidão para mudar de assunto rapidamente. Por exemplo, se lhe apresentam 4 ou 5 pessoas, sucessivamente, você concentra-se sobre os seus nomes e sobre as suas feições durante breves momentos, depois ficará atento ao que as pessoas disserem ou mostrarem, etc..
A concentração prolongada usada para o estudo ou a reflexão necessita de um outro treino. Voltaremos ao assunto pormenorizadamente, nas lições reservadas a este estudo.
De momento, vamos desenvolver a nossa concentração imediata à custa ou com a ajuda de alguns exercícios.
Estes exercícios podem melhorar o seu poder de concentração até um grau extraordinário, mas é necessário fazê-los com muita atenção.
Mostrarei outros exercícios de concentração no decorrer de todo o curso e será sugerido que você execute alguns várias vezes.
Estes exercícios podem lhe parecer difíceis. Não se preocupe. Faça-os, simplesmente, o melhor possível. Faça um exercício por dia durante essa semana.
EXERCÍCIO Nº 6 (Concentração)
Pegue um objeto (chave, objeto de adorno): observe-o com atenção durante 30 segundos, depois feche os olhos e tente representá-lo mentalmente, de maneira clara e precisa. Se alguns detalhes não estiverem perfeitamente claros, nítidos, observe de novo o objeto tomado e torne a fechar os olhos, etc.. até que possa representa-lo mentalmente, com nitidez.
EXERCICIO Nº 7 (Concentração)
Eis um exercício conhecido pelo nome de “prateleiras cerebrais”. Você escolhe 3 assuntos diferentes para reflexão: por exemplo, um projeto que tem; um assunto cientifico ou literário e uma lembrança pessoal (férias, viagem, etc.). Dedique 3 minutos de reflexão a cada um dos três assuntos. Durante os 3 primeiros minutos pense somente no assunto nº 1, passe depois ao assunto nº 2 e não pense em outra coisa; finalmente, passe ao assunto nº 3. É necessário não se distrair durante cada fase e, sobretudo, não pensar nos dois outros assuntos.
EXERCICIO Nº 8 (Concentração)
Reproduza mentalmente as feições de uma pessoa que vê frequentemente: verificará que delas só tem uma visão geral, uma impressão genérica, mas que os pormenores lhe escapam. Você completará a observação quando reencontrar a referida pessoa e recomeçará o exercício, até que obtenha uma representação perfeitamente nítida.
EXERCICIO Nº 9 (Concentração)
Tente este interessante exercício que desenvolverá o seu poder de concentração e atenção auditiva. Escute ou ouça o rádio; depois, diminua o volume; depois, mais baixo ainda; regule o seu aparelho o mais baixo possível até compreender, suficientemente, o que se diz. A fraca intensidade do som obrigá-lo-á a concentrar-se. Não prolongue este exercício por mais de três minutos.
EXERCICIO Nº 10 (Concentração)
Escolha um poema, leia-o lenta e atentamente, fixando-se sobre cada palavra importante por forma a evocar, de maneira precisa, a imagem correspondente. Não se deixe distrair por associações estranhas, sem relação com o poema.
EXERCICIO Nº 11 (Concentração)
Faça, de novo, o Exercicio nº 7 (prateleiras cerebrais) com os mesmos assuntos de ontem.
EXERCICIO Nº 12 (Concentração)
Faça novamente o Exercicio nº 9 com o rádio.
REFLEXO CONDICIONADO
Vamos dar uma breve introdução agora sobre o assunto que iremos estudar no próximo tutorial: o reflexo condicionado.
O conhecimento deste fenômeno nos ajuda a compreender melhor o motivo de alguns exercícios, de certos métodos, de determinados hábitos que nos auxiliam a dispor de uma memória mais eficiente.
De momento, torna-se necessário saber que acidentes (choques, traumatismos craneanos), suficientementes graves para atingir o cérebro causam perturbações de memória em zonas determinadas. Por exemplo, em conseqüência de um acidente uma pessoa pode perder a sua memória auditiva (ficando incapacitada de fixar uma ária musical ou uma canção), enquanto que a sua memória visual ou a sua memória táctil não se modificam em absolutamente nada.
Pensou-se portanto que algumas zonas do cérebro comandavam a memória auditiva, outras a memória visual, etc.. Pouco a pouco, pode-se localizar os pontos precisos do cérebro que correspondem a toda a espécie de atividade: intelectual, motora, etc..
A próxima figura mostra as principais localizações cerebrais.
PRINCIPAIS LOCALIZAÇÕES CEREBRAIS
1 – Movimento dos olhos | 11 – Dedos |
2 – Deliberação | 12 – Cotovelos |
3 – Respiração | 13 – Ombro |
4 – Cordas vocais | 14 – Pescoço |
5 – Centro motor da palavra | 15 – Tronco |
6 – Faringe | 16 – Anca |
7 – Língua | 17 – Joelho |
8 – Face | 18 – Compreensão da linguagem falada |
9 – Pálpebras | 19 – Movimento da cabeça e dos olhos |
10 – Polegar | 20 – Visão |
No tocante a memória, pode-se assim pensar que as conexões se estabelecem na zona interessada ou própria para a fixação das lembranças.
Por exemplo, a recordação de uma imagem traduzir-se-ia por algumas conexões situadas na zona marcada com o nº 20 no nosso quadro.
Mas podem também ter lugar ligações entre diferentes zonas e tal poderia ser a explicação do reflexo condicionado.
Bom, mais sobre reflexo condicionado no próximo tutorial.
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